Poema noturno

A noite chega como uma música suave
Pouco a pouco vai desapercebidamente
Tomando conta do nosso íntimo
E dominando inteiramente o pensamento.

A noite é bela.
A noite é uma fera.
A noite é uma fera, tão bela.

A noite exagera nos fatos.
A noite traz lembranças
E com elas as alegrias
E também as saudades
Que geram nossas fantasias ou tristezas.

A noite é um constante atravessar
De um lado ao outro do eu
Sem, de novo, nada acrescentar,
Numa caminhada cansativa e infinda.

A noite é uma criança
Que chora também.
Coitada! É tão carente!
É tão sozinha!
Como eu.

A noite tem o dom de trazer consigo
Toda a inspiração
Ausente, hoje em dia,
No ser humano.

A noite é um poema,
Quem sabe, o poema dos namorados?
Ou quem sabe o poema dos solitários?
Talvez o poema dos saudosos,
Os eternos chorões da humanidade.
Infelizes os que têm os olhos vendados
Para a magnitude noturna.

A noite é tão incompreendida,
E é tão carinhosa.
Coitada! Ela chora também!
É tão sozinha…


Poema publicado no livro “Simpatia” (esgotado)

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